Thursday, November 24, 2011

Porque vivimos a golpes, porque a penas si nos dejan decir que somos quien somos, nuestros cantares no pueden ser sin pecado un adorno. Estamos tocando el fondo.



LA POESÍA ES UN ARMA CARGADA DE FUTURO

(De "Cantos iberos", 1955)

Cuando ya nada se espera personalmente exaltante,
mas se palpita y se sigue más acá de la conciencia,
fieramente existiendo, ciegamente afirmando,
como un pulso que golpea las tinieblas,

cuando se miran de frente
los vertiginosos ojos claros de la muerte,
se dicen las verdades:
las bárbaras, terribles, amorosas crueldades.

Se dicen los poemas
que ensanchan los pulmones de cuantos, asfixiados,
piden ser, piden ritmo,
piden ley para aquello que sienten excesivo.

Con la velocidad del instinto,
con el rayo del prodigio,
como mágica evidencia, lo real se nos convierte
en lo idéntico a sí mismo.

Poesía para el pobre, poesía necesaria
como el pan de cada día,
como el aire que exigimos trece veces por minuto,
para ser y en tanto somos dar un sí que glorifica.

Porque vivimos a golpes, porque a penas si nos dejan
decir que somos quien somos,
nuestros cantares no pueden ser sin pecado un adorno.
Estamos tocando el fondo.

Maldigo la poesía concebida como un lujo
cultural por los neutrales
que, lavándose las manos, se desentienden y evaden.
Maldigo la poesía de quien no toma partido hasta mancharse.
Hago mías las faltas. Siento en mí a cuantos sufren
y canto respirando.
Canto, y canto, y cantando más allá de mis penas
personales, me ensancho.

Quisiera daros vida, provocar nuevos actos,
y calculo por eso con técnica, qué puedo.
Me siento un ingeniero del verso y un obrero
que trabaja con otros a España en sus aceros.

Tal es mi poesía: poesía-herramienta
a la vez que latido de lo unánime y ciego.
Tal es, arma cargada de futuro expansivo
con que te apunto al pecho.

No es una poesía gota a gota pensada.
No es un bello producto. No es un fruto perfecto.
Es algo como el aire que todos respiramos
y es el canto que espacia cuanto dentro llevamos.

Son palabras que todos repetimos sintiendo
como nuestras, y vuelan. Son más que lo mentado.
Son lo más necesario: lo que no tiene nombre.
Son gritos en el cielo, y en la tierra, son actos.

(Gabriel Celaya)

Gabriel Celaya / Paco Ibañez:
La poesía es un arma cargada de futuro (Paco Ibañez) (1969)
La poesía es un arma cargada de futuro (Paco Ibañez) (2002)
La poesía es un arma cargada de futuro (Joan Manuel Serrat)

Monday, November 21, 2011

A transferên​cia da Universida​de portuguesa​, de Lisboa para Coimbra, num texto de Aquilino Ribeiro

«Na mocidade não era o homem mal apessoado que figura mais tarde nos retratos de Cristóvão Lopes. Chaveiro do pescoço, o que avultou com os anos e tomou relevo com a sua altura meã e as regueifas da face, tinha olhos garços e boca rosada, bem definida. De carácter, como já se disse, era dissimulado e, quanto a palavra, que ao seu tempo era oiro para os homens comuns, mostrou-se tão hábil político que só a mantinha segundo a maré das conveniências.» (Príncipes de Portugal: suas grandezas e misérias)
***
***
«Possidónios», «abroeirados» e «sapateirais»
-
IV

Passa também D. João III por ser um útil reformador do ensino e, implicitamente, por amigo das letras, o que admira em face do mau recado que deu dos estudos primários. Devido a incapacidade mental ou relutância ao esforço, o latim e humanidades nunca chegaram a entrar-lhe na cachimónia. Di-lo frei Luís de Sousa, o mais cauteloso e incondicional dos cortesãos.
Terem-no guindado a Mecenas do ensino deve-o sobretudo à transferência que ordenou da Universidade de Lisboa para Coimbra, e sua reorganização. Custa a admitir que despojar a capital em proveito de uma cidade sertaneja, que tal se nos apresenta Coimbra com a dinastia de Avis, possa ser considerado um mérito. As razões que se invocaram para assim proceder são de todo especiosas e verdadeiramente ludibriantes. A capital tornara-se de facto uma metrópole de desvairadas gentes, dada ao luxo e à sumptuosidade. Mercê do porto de mar, chegavam ali mais depressa que lá para o interior as auras novas. Nos navios vinham da Flandres, de mistura com missais, galhetas e mais artefactos sacros, os livros proibidos ou simplesmente libertinos. Agora que o silêncio provincial seja mais profícuo ao trabalho do enten­dimento que o bulício das cidades é discutível. Com este, coexiste o torvelinho das ideias e a febre espiritual. Os campos são bons para os bois—dizia um humorista, e realmente a natureza convida a tudo menos a pensar. Pensar é um artifício do homem, que saiu, segundo a Bíblia, das mãos do Criador ditosamente maciço e obtuso. De resto, tal modo de ver era já contraditado ao tempo pelas Universidades de Paris e de Bolonha, sitas em cidades cosmopolitas e ruidosas.
Quanto às outras razões, ainda elas se entremostram mais descaroàvelmente sofismadas. Ter-se-á escolhido Coimbra, ao tempo lá no calcanhar de Judas, em virtude do rancor inextinto que D. João III votara aos velhos lentes das escolas de Lisboa, que não teriam pejo de falar de sua memória rude, e haviam cometido o despautério de não comparecer à sua entronização de capelo e borla, subservientes e bajula­dores?
Fosse como fosse, transferiu a Universidade para Coimbra e de princípio foi o caos. Não havia ali biblioteca boa nem má, nem mesmo lugares aptos a receber mestres e discípulos. Houve que recorrer aos colégios eclesiásticos já existentes e o reitor resignou-se a dar aulas nos seus próprios apo­sentos.
Os velhos catedráticos de Lisboa, salvo Pedro Nunes, que foi ganhar um ordenado de grão-duque, recusaram-se a trocar a capital pela parvónia provincial. Mas para esta emergência estava D. João III preparado. A rogo de Diogo de Gouveia que dirigia em Paris o Colégio de Santa Bárbara, decerto em má postura económica, acedeu a tomar ali quartel para cinquenta pensionistas, que enviaria de Portugal. Chegou a completar-se esta lotação ? Não o dizem os tombos, mas o certo é que de Portugal seguiram para Paris vários mocinhos. Antes de mais nada, como a caridade bem entendida começa por nós, o principal de Santa Bárbara chamou os parentes, os Gouveias, todos eles de cepa judaica. Eram uma tribo, espertos e aplicados, e muitos, se não todos, marcaram um lugar de distinção. André de Gouveia foi chamado a Bordéus a reformar o Colégio de Guiana, caído em decadência, e nesse cargo mereceu os louvores de Montaigne. António de Gouveia leu filosofia na Sorbonne e sustentou contra Pierre de Ia Ramée, em prol de Aristóteles, uma polémica que ficou célebre. Um outro Diogo de Gouveia, com o agnome de Júnior, sucedeu na reitoria do Colégio de Santa Bárbara.
André, que era tonsurado, oferecia a D.João III a garantia das ordens sacras para professor dos seus meninos. Mais do que isso, encarregou-o de organizar o corpo docente que viria leccionar para Coimbra. Eram lugares bem pagos e a comissão portanto disputada. Vieram muitos na sua boa fé. André de Gouveia, que era oportunista, tanto assim que despira a samarra de judeu e vestira a sotaina de clérigo, em despeito destas boas qualidades de adaptação esqueceu que vinha de um país livre para a catacumba de uma sacristia.
Da mesma forma, os pobres lentes que o acompanharam, sem embargo da conformidade com as leis civis e religiosas, tudo o que havia de pensamento mais pot-au-feu, acabaram por ser relegados ao tribunal do Santo-Ofício que os encarcerou e torturou para que não tivessem a má ideia de vir ganhar a vida no país dominado por uma religião feroz que não admitia sabichões. Que foram os jesuítas que indicaram o caminho do Colégio das Artes aos familiares do Santo-Ofício, no intuito de alcançarem o monopólio do ensino? É possível. O sucedido mostra bem o apego que D. João III tinha ao ministério das letras e a delicadeza de alma que professava para com hóspedes que procuravam desempenhar a sua missão com honra. Assim ou assado, a Universidade, pedra lar das artes e letras, onde deviam prevalecer as luzes da razão em prejuízo das ideias estáticas da escolástica e da ciência antropocêntrica, tinha vivido o tempo que vivem as rosas. Dali em diante, ficou, no geral, a Instituição bafienta, inútil, arcaica, submissa às ideias feitas, onde jamais foi possível entrar um verdadeiro ar de civilização e sair outra coisa que não fossem as metanas exaladas pelo timpanismo dos mestres mais possidónios, mais abroeirados, mais sapateirais do Orbe.
 
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Príncipes de Portugal: suas grandezas e misérias, acabado de escrever e editado em 1952, foi proibido em 1953. Ler as intervenções sobre este livro nas páginas 370-377 do nº 183 do Diário da Assembleia Nacional (sessão de 13 de Dezembro de 1952). "Clicar" em 183.
***
(...)
Não são só reis e príncipes que Aquilino Ribeiro amesquinha e ridiculariza, mas a própria Universidade e os seus mestres, que achincalha e reduz à mediocridade risível e enfatuada. E com isto não atinge apenas a vetusta e sábia corporação, madre da cultura, mas a própria cultura nacional, que ela fomentou e mantém.
Vozes: - Muito bem!
O Orador:- Para que a Câmara se aperceba do tamanho da injúria, vou transcrever as palavras de Aquilino Ribeiro, situadas no tortuoso perfil de D. João III, a pp. 146 e 147 do livro referido.
A propósito da transferência da Universidade para Coimbra e da reforma e renovação do ensino realizadas por aquele rei, Aquilino Ribeiro aproveita o lanço para aludir aos processos que a Inquisição moveu a alguns professores do Colégio das Artes e concluir daí que, perseguidos tais professores, o espírito científico e indagador abandonara para sempre a egrégia instituição e o País. Na verdade, Aquilino Ribeiro escreveu:
Assim ou assado, a Universidade, pedra lar das artes e das letras, onde deviam prevalecer as luzes da razão em prejuízo das ideias estáticas da escolástica e da ciência antropocêntrica, tinha vivido o tempo que vivem as rosas.
Dali em diante ficou, no geral, a instituição bafienta, inútil, arcaica, submissa às ideias feitas, onde jamais foi possível entrar um verdadeiro ar de civilização e sair outra coisa que não fossem as metanas exaladas pelo timpanismo dos mestres mais possidónios, mais abroeirados, mais sapateirais do Orbe.

Esta linguagem podem usá-la os pasquinários sarrafaçais que passam sem reparo, gorgulhando como os enxurros, a caminho da sarjeta; Aquilino Ribeiro, pela sua categoria mental e pelas responsabilidades que criou, não pode nivelar-se, barba por barba, com esses desesperados da notoriedade.
E tudo isto porquê, Sr. Presidente?
Só porque no século XVI alguns professores, que nem sequer o eram da Universidade, foram processados pela Inquisição!...
(...)
[Intervenção do Sr. Abrantes Tavares na Assembleia Nacional em 13 de Dezembro de 1952]

Ver
Desagravo. Três Discursos na Assembleia Nacional. Moção do Senado da Universidade de Coimbra

Neste blogue:
D. João III

Thursday, November 17, 2011

Portuguese pavements: Eduardo Nery, Praça da República, Redondo, Portugal

A originalidade de Eduardo Nery. Para cada espaço a arte adequada, a plástica que aquele lugar pede. Não há repetições. Vejam-se as diferentes realizações de calçadas de Eduardo Nery: Praça do Município e Martim Moniz / Rua da Mouraria, ambas em Lisboa.



1968/1971
Pavimento de praça em calçada-mosaico, Redondo
Imagens copiadas por mim do livro
Texto do referido livro:
PROJECTO: 1968
EXECUÇÃO: 1971
DIMENSÕES: c. 47,6m x 53,4m
PROJECTO URBANÍSTICO: Sebastião Formozinrio Sanches, Canon - Centro de Estudos e Projectos, L.da.
CLIENTE: Câmara Municipal do Redondo
LOCALIZAÇÃO: Praça da República, Redondo.
Pavimento em calcário e basalto, integrando uma fonte existente num dos ângulos da praça. e constituído por duas malhas de desenho, uma dinâmica em losangos e outra estática em quadrados, junto dos edifícios da Câmara Municipal e do Tribunal do Redondo.

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Ver
Eduardo Nery (Official Website)
(neste blogue)

Monday, November 14, 2011

"JOSÉ" (Carlos Drummond de Andrade)

Carlos Drummond de Andrade, por Portinari

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José

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?


E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?


Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!


Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?


(Copiado de Memória Viva / Memória Viva)

Ouça pela voz de Drummond:
José
José


CARTA DE JOSÉ
"Prezado cronista:
Permita que me apresente. Sou José, sem mais nada. Não tendo família, não tenho sobrenome. Aliás não tenho nada, salvo a particularidade de estar sempre ligado a uma pergunta que o amigo há de ter ouvido muitas vezes, e que também outras muitas terá feito ao próximo ou a si mesmo. Pergunta curiosa: ninguém pensa em respondê-la, ou porque não sabe ou porque não há mesmo resposta válida para ela. Uns chegam a supor que se trata de pergunta não interessada em ser respondida. Para outros, malgrado a característica formal, ela já é em si uma resposta. Que resposta? Uma pergunta. Morou? Não faz mal. Ela continua a ser feita.
(...)
O autor, segundo me consta, é conhecido, senão íntimo do senhor. Pois então, leia de novo o poema que se refere a este seu criado, e diga se estou certo em responder eu mesmo — afinal — à pergunta que muita gente se faz: E agora, José? Agora, continuo. Atenciosamente, José."
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Correio da Manhã, 14/06/67
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Ver neste blogue:

Wednesday, November 09, 2011

Por la manchega llanura se vuelve a ver la figura de Don Quijote pasar...

Fotografía de Robert Capa


VENCIDOS

Por la manchega llanura
se vuelve a ver la figura
de Don Quijote pasar.
Y ahora ociosa y abollada va en el rucio la armadura,
y va ocioso el caballero, sin peto y sin espaldar,
va cargado de amargura,
que allá encontró sepultura
su amoroso batallar.
Va cargado de amargura
que allá «quedó su ventura»
en la playa de Barcino, frente al mar.

Por la manchega llanura
se vuelve a ver la figura
de Don Quijote pasar.
Va cargado de amargura,
va, vencido, el caballero de retorno a su lugar.
¡Cuántas veces, Don Quijote, por esa misma llanura,
en horas de desaliento así te miro pasar!
¡Y cuántas veces te grito: Hazme un sitio en tu montura
y llévame a tu lugar,
hazme un sitio en tu montura,
caballero derrotado,
hazme un sitio en tu montura
que yo también voy cargado
de amargura
y no puedo batallar!

Ponme a la grupa contigo,
caballero del honor,
ponme a la grupa contigo
y llévame a ser contigo
pastor.
Por la manchega llanura
se vuelve a ver la figura
de Don Quijote pasar...


(León Felipe)

Fotografía de Robert Capa


Video:
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Sunday, November 06, 2011

Wallpaper groups. Tissues / Tiles: Brasil, São Paulo, SPFW, Maria Bonita - p4mm - cm - p31m





 



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Fotos copiadas de: Trends Summer 2012 - SPFW
Ver fotografias de todo o desfile de Maria Bonita clicando nesta frase
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Veja aqui o vídeo do desfile de Maria Bonita ao som do "Fado Tropical" de Chico Buarque:
Maria Bonita - Summer 2012(*)
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(*) Aqui, em primeiro lugar, aparece a versão censurada do Fado Tropical. Veja o texto não censurado, que pertence à peça Calabar, tal como Não existe pecado ao sul do Equador, já referido em «a mais criminosa organização do trabalho que ainda engenhou o mais desaçamado egoísmo». Se este texto é ou não adequado para estes desfiles, que cada um tire as suas conclusões... Em seguida, Caetano Veloso canta Os Argonautas inspirada na poesia Navegar é Preciso de Fernando Pessoa. Em terceiro lugar, Paulinho da Viola canta Foi um rio que passou em minha vida. Finalmente, Chico Buarque canta Tanto mar .
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Será que este «rio que corre de Portugal e desagua no Brasil» não dá para os estlistas portugueses irem beber à fonte? 

Tuesday, November 01, 2011

Any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.


«No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were: any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.»