Sabia que
António Aniceto Monteiro frequentara o café «Vermelhinho». Procurei o «Vermelhinho» em Lisboa e até no Porto. Em vão. Até que um dia, muito tempo passado, lendo a crónica «
POETAS EM MAIO», de
Carlos Drummond de Andrade, deparei-me com este trecho:
«É possível que o nosso grande poeta [Vinícius] se tenha enganado, e que não devamos dividir uma cidade entre centro e subúrbio, mesmo sem propósito de discriminação hierárquica e sentimental. As distinções sociais e econômicas visíveis em todo agrupamento urbano não podem ser expressas pela fórmula esquemática de centro e subúrbio, de Copacabana e Madureira, de tal modo se justapõem às contradições mais gritantes em cada bairro ou em cada rua da cidade. De qualquer modo, os novos do Rio não compareceram em quantidade apreciável, e os da província foram pouco a pouco desaparecendo, ignoro por quê. A experiência ficou limitada a um suplemento. Os outros mantêm o critério dos nomes feitos, bons ou ruins, mas feitos. Do lado de fora, circulando entre o Amarelinho e o Vermelhinho, ou entre cafés menos célebres, e espalhando-se mesmo até Niterói, os rapazes de vinte anos sentem falta de jornal ou revista, falta física, como de amor, e quem já passou pela idade sabe que, nessa época, o nome impresso tem macieza de pele acariciada ou gosto úmido de beijo na boca. Não basta escrever, é necessário publicar; de preferência num quadro. Acredito que a exposição de poesias, além do seu caráter de afirmação ou sinal, derivou dessa carência.»
Este «Vermelhinho» não era em Lisboa, nem no Porto, nem sequer em Portugal. Era no Brasil, no Rio de Janeiro.
Nos anos 40, além de
Drummond, muitos intelectuais, como
Athos Bulcão,
Niemeyer,
Portinari,
Vinícius, frequentavam o «Vermelhinho», assim conhecido pela côr das suas cadeiras de palha.
Para ir do Amarelinho para o Vermelhinho, atravessava-se-se
a Praça Floriano (a Cinelândia). O «Vermelhinho» ficava na Rua Araújo Porto Alegre, em frente à
ABI (Associação Brasileira de Imprensa), que, por sua
vez, fica no nº 71 (R. Araújo Porto Alegre, 71).