(...) As coisas que tinham acontecido — arrastando toda a gente para uma realidade crua e imediata — impediam que todos continuassem calmamente a ser, com inocência ou sem ela, o que tinham sido até aí. A Guerra Civil espanhola fizera isso. As minhas motivações, as dos meus tios, as dos Ramos e dos Macedos, do Almeida, de todos, eram perfeitamente secundárias. Todas elas haviam convergido num envolvimento geral que a guerra precipitara de dois modos: como repercussão, e como charneira decisiva. A vida de ninguém estava em condições de continuar a ser uma paz podre. Não seria também uma paz limpa. Era uma guerra, com tudo o que ela implica de podridão e de lixo. A minha guerra, como a dos que tinham partido (se é que tinham), começava agora. Contra quem? E em favor de quê? Isso não me aparecia claramente, mas sem dúvida do meu direito, e o dos outros, de ser neles e por eles, reciprocamente. Mas contra quem? Contra a exigência de ser, pura e simplesmente, uma unidade ideal e fictícia. (...)
(Jorge de Sena, Sinais de Fogo, Capítulo XXVII)
(Jorge de Sena, Sinais de Fogo, Capítulo XXVII)
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