Propostas para pavimentos no concurso para o Centro Cultural e de Congressos, nas Caldas da Rainha (não concretizado em obra)
PAVIMENTAÇÃO DOS
ESPAÇOS EXTERIORES EM EMPEDRADO
A minha intervenção principal, da qual
decorrem as demais nos espaços exteriores, é sem dúvida na Praça a poente. Aí tive
sempre em linha de conta as características morfológicas e a dimensão do
edifício, tendo optado por uma malha geométrica com uma escala quase
monumental, visto o módulo-base ter aproximadamente 2,50 x 2,50 metros,
portanto uma presença muito grande na praça, para aguentar o confronto com um
edifício tão forte e expressivo, no qual as linhas diagonais e o claro-escuro
da sua arquitectura me terem exigido uma resposta igualmente intensa e com uma
escala visual muito grande.
Quanto à composição do pavimento
principal estruturei-o marcando fortemente um eixo central que
corresponde ao centro da fachada poente e das portas de entrada, em baixo. Esse
eixo central é constituído por uma sucessão das três formas mais elementares e
emblemáticas na geometria euclidiana: o círculo, o quadrado e o triângulo. Por
sua vez, a partir desse eixo marquei simetricamente várias diagonais a 45º que
percorrem e organizam todo o espaço da praça, com base numa malha de triângulos
rectângulos. Aliás, esses vectores de movimento são constituídos por ritmos e
por sub-ritmos de linhas contínuas e descontínuas, em alternância. Por outro
lado, neste espaço domina o branco que funciona como fundo homogéneo, contendo
e afirmando por contraste as figuras geométricas em negro.
Um outro aspecto fundamental, é o facto
de ter usado intencionalmente direcções convergentes e divergentes no chão da
praça. Para quem sai do edifício o espaço à sua frente expande-se, e em sentido
oposto, quando o observador se aproxima da fachada poente as linhas de força
convergem todas para a entrada. Ou seja, estas duas direcções opostas de
expansão e de contracção completam e reforçam o eixo principal que funciona
como o elemento fixo e estruturante do movimento global, ao nível da
macro-escala da praça, encarada como um todo rítmico e vibrátil.
No respeitante à praça principal há
ainda a referir o facto de eu ter definido outros eixos estruturais
secundários, mas que têm um papel igualmente importante na relação com a
fachada poente do edifício. Em primeiro lugar, existem dois eixos paralelos ao
central que “amarram” o desenho às duas esquinas principais do edifício,
demonstrando que este desenho foi projectado em função da largura da fachada
poente. Temos ainda um segundo eixo transversal que passa pelo centro da praça
(o círculo maior), e que determina simetricamente outros círculos mais
pequenos, ou partes de círculos, aonde se irão situar preferencialmente as
estadias e os bancos nesta praça. Também os quadrados mais discretos poderão
igualmente receber bancos para as pessoas se sentarem. Por sua vez, do lado
direito da praça e mais a sul, marquei subtilmente um percurso longitudinal em
direcção à escadaria que permite o acesso à parte mais alta deste terreno, no
qual mudei de padrão e de ritmo.
Assim, nas restantes zonas mais elevadas
dos espaços exteriores, a sul e a nascente, projectei um padrão diferente e
mais compacto, mas também baseado em quadrados, em triângulos e em linhas
inclinadas a 45º, para estabelecerem uma relação formal com o desenho da praça
principal. Este segundo desenho tem uma escala visual muito mais pequena para
organizar plasticamente áreas pedonais entre escadas e caminhos mais estreitos
e mais curtos, na parte mais alta do terreno. Ele adapta-se assim muito melhor
a diversos percursos definidos no projecto de arquitectura paisagista, com uma
escala visual totalmente diferente da malha usada na praça maior, mas mantendo
igualmente vivo o trajecto dos peões, seguindo direcções marcadas no chão por
triângulos que poderão ser perceptíveis como setas dirigidas em dois
sentidos opostos, mas que também têm implícitos percursos em diagonal.
Finalmente, em ambos os desenhos de
pavimentos houve a intenção de responder de forma dinâmica às diversas
diagonais e mudanças de direcção de planos de fachada que caracterizam a
morfologia arquitectónica deste edifício.
Eduardo Nery, 2004
(Excerto da memória descritiva)
[O autor deste blogue agradece a Eduardo Nery a autorização para publicar estes seus documentos (texto e fotos)]
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