.
Naquela roça grande não tem chuva
é o suor do meu rosto que rega as plantações;
Naquela roça grande tem café maduro
e aquele vermelho-cereja
são gotas do meu sangue feitas seiva.
O café vai ser torrado
pisado, torturado,
vai ficar negro, negro da cor do contratado.
Negro da cor do contratado!
Perguntem às aves que cantam,
aos regatos de alegre serpentear
e ao vento forte do sertão:
Quem se levanta cedo? quem vai à tonga?
Quem traz pela estrada longa
a tipóia ou o cacho de dendém?
Quem capina e em paga recebe desdém
fuba podre, peixe podre,
panos ruins, cinquenta angolares
porrada se refilares?
Quem?
Quem faz o milho crescer
e os laranjais florescer
– Quem?
Quem dá dinheiro para o patrão comprar
máquinas, carros, senhoras
e cabeças de pretos para os motores?
Quem faz o branco prosperar,
ter barriga grande – ter dinheiro?
– Quem?
E as aves que cantam,
os regatos de alegre serpentear
e o vento forte do sertão
responderão:
– Monangambéée...
Ah! Deixem-me ao menos subir às palmeiras
Deixem-me beber maruvo, maruvo
e esquecer diluído nas minhas bebedeiras
– Monangambéée...
(António Jacinto, in Antologia da poesia negra de expressão portuguesa)
correspondências
-
(*Reinaldo Ferreira (Repórter X) a Ferreira de Castro*) *«Lisboa *10 de
Fevereiro de 1926. // Meu Caro Ferreira de Castro // Já sabes o que certa
bela ca...
2 days ago
No comments:
Post a Comment